A minha ideia inicial era botar aqui uma enquete perguntando se eu devia ligar para ele ou não. Mas eu acho que eu já conheço um pouquinho sobre os meus (seis) leitores para saber que eles iam mandar eu ligar. É, eu sei que vocês gostam de ver o circo pegar fogo mesmo, não é?
Eu explico, é que eu conheci um cara que conseguiu a façanha de me deixar sem palavras. E mais: inverteu completamente as regras do jogo e deixou a bola do meu lado, para eu decidir se dou ou não o pontapé inicial.
Pois é, era para ser um simples almoço com mais duas amigas até que o bofescândalo do gerente do restaurante resolveu virar tudo do avesso. Jovem mas já grisalho (ai ai...), olhos azuis, duas tatuagens e com um bom humor sensacional. É, isso tudo estava servindo a nossa mesa. O meu gaydar apitou logo.
Para começar a gente pediu um café (para a ressaca) e ele perguntou se não queríamos umas gotinhas de limão no café, que era tiro e queda para acordar. E foi mesmo! De maneira nenhuma que esse homem charmoso e inteligente e engraçado poderia ser também hetero. Depois pedimos picanha e, quando ele veio recolher os pratos, reclamou porque eu nem toquei nas batatas fritas.
- Eu não ligo para batatas fritas.
- Quem não gosta de batatas fritas não merece o ar que respira.
E piscou o olho. Aí contou uma história sobre uma ex namorada e um jantar. Tá! Ex namorada my ass!!! Se fosse ex namorado eu até acreditaria...
- E o que vocês vão querer de sobremesa?
- Nada.
(falaram as três vozes da dieta em coro)- Ah, mas tem ali um petit-gateu...
Para mim essa foi a prova decisiva. Nenhum heterossexual gostosão que se preze faz a mínima ideia sobre o que é um petit-gateu. Muito menos sabe qual o efeito que aquele bolo de chocolate com chocolate derretido por dentro tem nas mulheres. Meus olhinhos brilharam e eu disse logo que sim. Dispensar um petit-gateu é um crime federal mas, ainda assim, as minhas outras duas amigas arrumaram forças e permaneceram fiéis à dieta.
Ele foi buscar e voltou com os olhos baixos.
- Eu peço imensa desculpa, mas o petit-gateu acabou.
- Como assim??!! Mas agora eu fiquei com desejo!!!
Eu juro que eu não queria, mas essa resposta saiu com muito ressentimento. Acho que até lacrimejei um pouco. Eu não sei se ele ficou com dó ou se só achou que eu era maluca, mas respondeu:
- Calma! Olha, tem um brownie...
- Mas um brownie não me satisfaz completamente...
(caí em mim e disse isso com um ar sacana)- Vamos combinar assim: eu trago o brownie e, se não satisfizer, eu te dou outra coisa.
Aceitei. Comi o brownie que até estava gostosinho. Não era um petit gateau mas quebrou o galho.
- Então, o brownie satisfez?
- Sim, estava bom.
- Então olha, tens aqui o meu cartão com o meu número. Quando não tiver petit-gateau por perto e brownie não satisfizer...
... E foi aí que eu fiquei sem saber o que dizer, segurando o cartãozinho com o nome e o número do celular dele que nem uma idiota. Com muito custo esbocei um "obrigada".
"Obrigada". Mas que porra de resposta é essa?! Para começar tenho que ajustar o gaydar que, obviamente, não está a funcionar bem. E, segundo, agora tenho o telefone dele. Ele não tem o meu. Não costuma ser assim!!! Quem dá o telefone e sai correndo sou eu! É de admirar a atitude do sujeito, mas agora sou eu quem tem que decidir se liga ou não. Foo-del!
Ai gente, peraí que eu vou ali buscar uma parada que caiu e já volto: o meu queixo!