Então ela olhou bem fundo nos olhos do abismo da sua existência. Lá de baixo, a miséria lhe sorria, zombeteira. Tinha cabelos grisalhos e sonhos destruídos. Longe ia o tempo da mocidade alegre e pensamentos distraídos.
O rosto encovado escondia o sorriso que já há muito deixara sua face. Os olhos baços não lembravam nem de longe o olhar esperançoso que costumavam exibir sem pudor. Sim, andava encurvada por todo peso de uma existência vazia. Pés cansados, calejados de vagar sem destino por um tempo que parecia correr ao contrário. Mãos grossas, pesadas que eram nada mais que um testemunho de uma vida passada a escorar lágrimas que jorravam feito tempestade. Sem delicadeza. Sem beleza. Sem nada que remotamente trouxesse algo de bom.
Quis sorrir mais uma vez. Em vão. Quis calar, mas da sua boca sairam duas palavras que não conseguiu conter. E, enquanto o abismo lhe devorava, expirou:
- À Deus.
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