Você passa por um espelho e se vê. Se vê em câmeras de vigilância, em vidros de carro, no reflexo de um par de óculos escuros. Se vê em muitos lugares, mas não espera se encontrar nas mãos de outra pessoa.
Foi assim que eu me vi hoje, sendo folheada por uma mulher no trem, bem do meu lado. Foi essa surpresa que eu tive ao ver o meu sorriso, sorrindo de volta para mim, nas páginas da revista nas mãos da mulher do trem.
Tudo começou como um favor para uma amiga que é jornalista e precisava de uma pessoa para uma matéria de um colega dela. Eu dei a entrevista por telefone e marquei com o fotógrafo de fazer uma foto que iria ilustrar a matéria.
Eu pensei que tirar uma foto fosse uma coisa fácil. Você chega, ele clica e pronto! Mas eu demorei 40, sim qua-ren-ta minutos para tirar UMA mísera fotinho.
"Põe a mão aqui, dance, dá uma voltinha, abre os braços e fecha os olhos, descontrai, você piscou, fica natural, o cabelo ficou na cara..."
Isso tudo com um vento féladaputa levantando o meu vestido e eu com a preocupação de não mostrar mais do que queria e acabar parando noutro tipo de revista. Uffff... Não, eu não nasci para modelo.
A revista saiu, eu comprei, mostrei para os amigos e pronto. Tive meus 5 segundos de "fama".
Nunca mais me lembrei disso. Até hoje que, num momento bizarro do acaso, eu dei de cara comigo mesma, sorrindo, diretamente das mãos de uma senhora que eu nunca vi na vida. Ela lendo o que eu falei e olhando para a minha cara, sem saber que estava olhando para mim.
E não, eu não falei com a mulher. Para a decepção de vocês me deu um ataque de timidez e eu me encolhi no meu lugar e fiquei observando ela ali, olhando pra mim.
Eu saí na minha estação, fui encontrar umas amigas para jantar. Eu continuei no trem e fui enfiada numa bolsa azul.
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