sábado, 8 de outubro de 2011

Pantone

- Onde você vai?

Nem foi tanto a pergunta que o surpreendeu. Nunca se tinham visto e ela agarrara-o pelo braço com um excesso de familiaridade que lhe era estranho. Bom, não é bem que nunca se tivessem visto. Já tinham trocado olhares. Azul no Castanho de leve. Mas nada que explicasse esta atitude dela. Perplexo, balbuciou:

- Eu só... Ali... Bem... Ao bar... Uma cerveja
- Não. Você não vai. Quer dizer, fica... - Disse ela, ainda segurando-o pelo braço, mas moderando o tom ao perceber que talvez tivesse exagerado.

Ele ele olhou para ela sem dizer nada, no fundo dos olhos. Azul no Castanho com intensidade.

- ... a gente ainda não dançou. - Disse, por fim, soltando o braço do rapaz.

Foram dois segundos que pareceram uma eternidade. Ela tentava fazer a pose de mulher atrevida e confiante que sempre sonhara ser. Por dentro morria de medo que o largar do braço significasse um virar de costas e até nunca mais. Tentava a todo custo manter a timidez escondida naquele cantinho da espinha dorsal.

Ele assentiu com um aceno de cabeça quase imperceptível. Começou a movimentar-se meio sem jeito em volta dela. Talvez, no planeta dele, aquilo seria considerado dançar. O Azul brincalhão roçava no Castanho sorridente.

- Eu vou ali para a janela fumar.
- Me dá um cigarro? - Disse ela rapidamente tentando evitar que Azul e Castanho se perdessem no meio da multidão.

Ele acendeu o dela. Ela engasgou levemente, pois fumar não fazia parte dos seus hábitos. Azul e Castanho se estudavam, envoltos numa nuvem cinza.

- Quer caipirinha?
- Quer me deixar bêbado?

Azul e Castanho sorriram. Se provocavam. Ela esforçava-se para manter a ousadia, que nunca lhe fora natural. A timidez ameaçou saltar do esconderijo. Ela endireitou a coluna. Azul e Castanho, ligeiramente ébrios, ficaram mais próximos, separados por um fino véu de fumaça que bailava.

- Adoro essa música. - Disse ela ao reconhecer os primeiros acordes de uma canção.
- Dança comigo.

Dessa vez era ele quem fazia o pedido. Já não se mexia descoordenadamente. O corpo, colado no corpo, se movia em uníssono. Num roçar leve de lábios, Azul e Castanho foram cobertos por pálpebras. Assim permaneceram.

Azul e Castanho se procuravam. De forma cada vez mais frenética. Pode-se até dizer eles se viam, mesmo sem verem mais nada. Foi quando os lábios se soltaram que Azul e Castanho se reencontraram e pediram mais.

Se olharam, se saborearam, se mesclaram. Azul penetrante, Castanho misterioso. Azul acastanhado, Castanho azulado.

Se transformaram numa única cor. A cor da felicidade de pertencerem um ao outro.