terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Estrela no País das Maravilhas

"Mas, quando o Coelho tirou mesmo o relógio do bolso do colete, viu as horas e continuou o seu caminho todo apressado, então é que Alice se pôs de pé num salto, pois de repente passou-lhe pela cabeça a ideia de que nunca tinha visto um Coelho de colete, com um relógio de bolso".

Isso é porque Alice nunca morou aqui em casa. Caso contrário, já teria presenciado um coelho usando óculos escuros, chapéu de cowboy, gorro de Papai Noel, entre outras coisas que essa dona tosca que vos fala achou que ficaria bem num bichinho.

No entanto, e como o Coelho Branco, Estrelinha também tinha pressa. "Tempus fugit", o tempo foge, não é assim que se diz? Quando se vê passaram quatro anos. Quando se vê, aquele coelhinho que ainda é pequenininho nos teus braços (porque afinal, não deixa de ser um coelho anão) já é velhinho.

E ele foge. Irreversivelmente o tempo foge. Quando se vê, numa sexta-feira, que não foi treze mas bem poderia ter sido, a Estrela que brilhava na minha casa, resolve que é hora de brilhar no Céu.

Essa é a pior parte. Porque sabem de uma coisa? A despedida dói. Dói mesmo, de chorar, espernear e de querer que alguém diga que vai ficar tudo bem.

Mas não fica. Porque chegar em casa e vê-la verdadeiramente vazia é ruim demais. É o gosto amargo que fica na boca. Arrumar a gaiola que não vai ser mais usada, a água que ficou por beber, o resto do feno, a areia para o fundo da gaiola. Tudo que fazia sentido quando tinha uma Estrela em casa.

É difícil desabituar da rotina. Controlar o impulso de olhar para aquele canto da casa e esperar um olhar de volta. Saber que eu vou dormir a manhã de sábado toda porque não vai ter ninguém na sala derrubando as garrafas do móvel para me acordar em sobressalto. Que eu não vou me atrasar para o trabalho porque estive correndo atrás do bicho que não queria, por nada desse mundo, entrar na gaiola.

É um azedo inexplicável. Um nó na garganta que só o tempo consegue desfazer. Mas que vinca o tecido. Porque há coisas que nunca vão embora, você apenas meio que se acostuma a viver sem elas.

Talvez seja isso que os entendidos chamam de saudade. Mas para mim, agora saudade é assim:

3 comentários:

By Mari Molina disse...

Sinto muito pela perda!

M. disse...

Ai Ana. Que triste ler essa notícia! Como você disse, Estrela Regina agora brilha no céu. Esses bichinhos cativam muito a gente, né? Tenho uma cachorrinha bem velhinha, sei que daqui a pouco chega a hora dela e vai ficar um vazio danado aqui. Não gosto nem de pensar! Força aí!

beijos.

Unknown disse...

Chorei...