quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Paula Cristina

Como os pais não conseguiram chegar a um acordo sobre um único nome, escolheram dois. Foi assim que nasceu Paula Cristina. Uma combinação horrível, ela sabia. Mas desde pequena aprendeu a lidar com a dualidade. Nunca soube se era mais Paula ou se era mais Cristina. Por isso habituou-se desde sempre a dar os dois nomes quando questionada sobre a sua identidade, mesmo nos dias em que estava mais inclinada a ser apenas um desses nomes.

Para a família da mãe era "Paulinha", para os avós paternos e primos, desde sempre ela era a "Cris". E oscilava entre personalidades conforme o nome que lhe atribuíam. Paulinha era determinada, Cris era mais tímida.

Com o divórcio dos pais a coisa complicou-se de vez. Assim, mãe não entendia porque o pai reclamava que ela era muito reservada. Este, por sua vez, achava estranho quando a mãe dizia que Paulinha estava de castigo por ter chegado de madrugada em casa. E enquanto um falava o outro abanava a cabeça sempre com o mesmo pensamento: "Mas a minha filha não é assim..."

É que nos fins de semana que passava com o pai, largava a pele de Paula para ser inteiramente Cristina. E Cristina gostava de MPB, sua cor preferida era azul e tinha uma certa inveja de Paula que era a filha preferida da sua mãe.

Paula era popular na escola. Adorava o cursinho de inglês e queria ser administradora de empresas. Não entendia a mania da Cristina de insistir em ter ursos de pelúcia no quarto.

Cristina não gostava do namorado da Paula. Sabotava alguns encontros ficando terrivelmente gripada nas sextas à noite. Como vingança, Paula colocava Cristina em situações embaraçosas, como ter que apresentar um trabalho em frente à turma toda.

Nesse seu mundo particular ela era sempre uma de cada vez. Daí que deixou todo mundo boquiaberto quando surtou num belo dia em que, ao ser repreendida pelo pai por uma nota baixa, ele disse num tom mais ríspido:

- Paula Cristina...

2 comentários:

By Mari Molina disse...

Isso faz parte de nós. Ora somos Paula, ora somos Cristina. O negócio é ser feliz, tentando encontrar o equilíbrio.

Lari Bohnenberger disse...

Pobre da Paula e da Cristina!
Eu sou apenas Larissa, mas meus humores também oscilam de acordo com o chamamento: Lari, Issa, Mana... Mas geralmente é a Larissa mesmo, sem apelidos, que predomina!
Adorei o texto!
Bjs!