quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Vênus

Nunca gostei daquelas meninas do cabelo impecavelmente penteado, ou dos dentes alinhadinhos. Sei que elas têm um certo charme que agrada a muitos, mas não a mim. A Vênus de Milo por exemplo, não sei se já repararam, tem uma barriguinha saliente.

Adoro vê-las disfarçar os pequenos defeitos. Daqueles que nem repararíamos, não fosse o esforço hercúleo colocado na tarefa de escondê-los.

A minha Vênus sai do pedestal e entra na vida. Com o pé esquerdo e o direito. Anda altiva, tropeça e quase cai no chão da avenida. Mania de usar esses saltos nessa calçada esburacada. E chega em casa jogando o sapato para o lado. Suspira de alívio por ter, agora, menos oito centímetros. Prende o cabelo, deixando uma madeixa em desalinho. Tira a roupa, tira a lente e a maquiagem.

É nessa hora que eu gosto mais dela. Porque nessa hora ela é só minha. Só eu que a vejo assim. Impecavelmente vestida com um sorriso. Minha. Linda.

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