quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Leite Derramado

Ontem eu me peguei com 3 horas livres entre uma entrevista de emprego e o Chorinho. Resolvi aproveitar esse tempo indo para um dos lugares mais tranquilos que eu conheço: a sala de leitura da Fnac Chiado.

A Fnac tem esse conceito super especial onde ninguém fica em cima de você enquanto você manuseia as obras. Eu já li livros inteiros na Fnac e, em compensação, sempre que eu quero comprar alguma coisa - livros, DVDs, jogos - é lá que eu vou.

Me agarrei a um livro pequeno que já queria ler desde que eu soube que foi lançado. Ah, falta dizer que para mim um livro pequeno é um que tem menos de 300 páginas. Ou seja, daqueles que se lêem facilmente num dia pouco atribulado.

Eu já conhecia o trabalho do autor na música. Logo ele que é um dos meus preferidos. Por falha minha, nunca tinha lido nenhum dos seus livros.

Consegui ler 193 das 223 páginas do livro. Ou seja, ainda falta o fimzinho, mas já dá para ter uma ideia geral.

A história é contada na primeira pessoa por um velhinho internado. Tem um tom de conversa, de confissão. Para quem tem avós, daqueles que gostam de falar e contar os "causos" é fácil sentir o personagem. Eu mesma me senti ao dele enquanto ele rendilhava suas histórias.

A narrativa é perfeita. Embaralhada o suficiente para você não entender quem é quem e, só ao fim de tantas páginas, conseguir perceber que esse era o filho daquele e a mulher era mãe de não sei quem lá. Como memórias que voltam em catadupa e repetem-se.

Repetem-se. Esse pra mim é o toque de gênio que traz o personagem para a realidade. O senhor Eulálio Assumpção repete memórias, confunde personagens e divaga. Pula de um assunto para o outro como quem muda o canal da televisão.

O modo como foi escrito, faz com que você não queira tirar os olhos das páginas, que se tornam um grande monólogo e você senta-se ali - e sente-se ali - na Fnac, ao lado da cama de hospital, lendo, ouvindo e acenando em concordância.

1 comentário:

Lari Bohnenberger disse...

Da literatura de Chico Buarque conheço apenas duas obras: Budapeste e Estorvo.

O primeiro é sensacional. Uma narrativa envolvente, uma história apaixonante. O segundo achei um pouco chatinho. Mas o li em um momento não muito propício da vida, portanto petendo dar ainda uma segunda chance a ele. Afinal de contas, é Chico!

Sobre Leite Derramado, fiquei verdadeiramente com vontade de ler. Da maneira como você descreveu, eu fiquei imaginando um vozinho já meio caduco, destes que esquece o que acabou de contar e não consegue manter um pensamento linear quando conta suas histórias. Tenho a sensação de que vou gostar. Dica anotada!

Bjs!