sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Natividad

Há uns que morrem pelos outros. Há outros que não morrem por ninguém.

Acho que vocês já ouviram falar da história de Natividad. O cachorro que moreu pela “arte”.

Se é que alguém consegue chamar aquilo de arte. Sinceramente, eu não entendo arte moderna. Me chamem de burra, limitada ou do que quiserem. Adoro o Renascimento, o Barroco e o Impressionismo, principalmente Monet. Para mim é isso é que é arte. Não entendo Miró e também não sei desde quando o sofrimento se tornou bonito de se ver.

Sim, porque eu não sei se vocês imaginam, mas aquele cachorro sofreu. Sem comida, sem água, sem oportunidade. Sou muito longe de defensora dos animais, abraçadora de árvores ou qualquer coisa parecida. Mas me chocou. Não gostei. Achei pura maldade.

Crueldade? Sim, muita crueldade. Ele quis dar uma opinião. Expôr um ponto de vista. E até acredito que seja uma opinião válida. De certa forma até concordo com o que ele disse. De acordo com a expressão do próprio artista, ele quis falar da hipocrisia. E que se o cão estivesse na rua ninguém se teria importado. É verdade? Sim! Quantos cães morrem de fome e você nem vê? Quantas crianças morrem de fome e você nem vê? Quanta gente morre na guerra e você nem vê? Quantos idosos morrem sozinhos em lares e você nem vê? Ele pegou a morte e esfregou na cara do mundo. A morte virou espetáculo para todo mundo ver. E o mundo não gostou do que viu. A morte é feia.

E agora vamos martirizar o cão, torná-lo numa bandeira. Será que isso impedirá os outros cães de morrerem? Não. Será que a partir daí construiremos um mundo melhor? Também não. Mas o que é certo é que o “artista” teve seus quinze mintutos de fama.

A ideia até poderia ser boa, mas ele não a desenvolveu da maneira correcta. Porque matar um animal só para provar uma tese não pode estar certo! Ou serei eu que estou muito errada? Desde quando a nossa sociedade se tornou permissiva a ponto de deixar a morte acontecer ao vivo? E, se é assim, até que ponto chegaremos? Alguém pode me dizer onde foi para o nosso senso de bem e de mal?

Essas coisas me assustam sabe? Pensar que estamos descontrolados. Pensar até que ponto vamos deixar acontecer passivamente, como meros espectadores da vida. E pensar na nossa evolução. Enquanto sociedade, enquanto seres humanos. Mau gosto, tortura, crueldade. Tenho medo que isso se torne banal. Onde estão os nossos limites?

Há uns que morrem pelos outros. Há outros que não morrem por ninguém.

Lamento te dizer, Natividad, mas a verdade é que você morreu em vão.

18 comentários:

O Enxadrista disse...

Muito bom o texto.

O "artista", apesar de uma maneira meio sem-noção, falou uma verdade. Se o cão estivesse na rua, ninguém se importaria com ele.
Da mesma forma, milhares de pessoas morrem de fome nas ruas e não ligamos, mas se ela estivesse exposta em um lugar desses, todos ficariam com pena (enquanto estivessem na exposição, claro)

Ademais, não se preocupe, você não está errada.

Abraço ;)

Redd disse...

só consigo usar uma palavra pra descrever isso, a mesma q vc usou:

crueldade.

mta crueldade.

Anónimo disse...

belo texto !!!

Muito interessante!!

Grande abraço

Luckaoli disse...

Texto muito bonito

Essa parte foi ótima

" que se o cão estivesse na rua ninguém se teria importado. É verdade? Sim! Quantos cães morrem de fome e você nem vê? Quantas crianças morrem de fome e você nem vê? Quanta gente morre na guerra e você nem vê? Quantos idosos morrem sozinhos em lares e você nem vê? Ele pegou a morte e esfregou na cara do mundo"

Zanfa disse...

Realmente existem coisas muito erradas com a sociedade atual.

Eu vejo tudo muito quieto, tudo muito sorrateiro. Algo prestes a explodir.

Mas deve ser só um pressentimento.

Marina disse...

Parece que agora todos os artistas querem chocar! Outro dia foi aquele com uma campanha de uma modelo anorexa, agora isso! Não sei se concordo muito, as pessoas têm que se tocar no dia a dia, se esfregarem a morte na nossa cara, só teremos o trabalho de sentir pena, ou qualquer outra coisa. Eu acho que pra sensibilizar alguém, tem de ser sensível o artista também, para de uma maneira mais subjetiva mostrar ao mundo o seu ponto de vista.

Tássia Rebelo disse...

HAHAHAHA eu tbm achei que ele fosse gato, mas se vc ver o vídeo também vai achá-lo "feinho" =}

young vapire luke lestat disse...

Eu gosto de arte em todas as suas expreções....
Mas não, o pós-modernismo do Vargas Habacuc como uma pseudo forma de arte.
Ele simplimende direcionou sua ira por um ataque de dois Rottweiler.
Ele aproveito o
momento que havia uma comoção local por parte das pessoas, tentou se promover...
as custa do sofrimento de um pobre viralata de rua.
Ele só conseguio fazer isso pq estava no terceiro mundo, aqui estaria preso...
Este Sr.Guillermo Vargas Habacuc não é um artista é um sádico querendo aparecerde qualquer maneira.
E que quanto menos ele for citado na mídia será melhor que descanse em paz o "Natividad" e que morra no esquecimento eterno Sr.Guillermo Vargas Habacuc



[]s L.Sakssida

osmar portilho disse...

bom texto...alguns conceitos precisam ser revistos antes de adquirir qualquer caráter de "arte"

Bernardo Lima disse...

nossa, o final pegou pesado hein?

"Lamento te dizer, Natividad, mas a verdade é que você morreu em vão."

rsrs
mas sobre essas artes, sou suspeito de falar, pois acho quase tds feas...rsrs
bj, ana

Filha de Gaya disse...

Texto bem interessante! Voltarei mais vezes mocinha!! :)
bjus

Adalberto Duarte disse...

O sofrimento alheio nos passa despercebido quase sempre, é uma verdade dolorosa.
Pobre cão que morreu em vão como tantos.

Anónimo disse...

é que tem muito sofrimento por ai e as pessoas fecham os olhos para nao ver...

Anónimo disse...

Eu tinha recebido via e-mail as fotos e fiquei pasmo com tamanha falta de pulso e consciencia dos limites da 'arte'. é impressionante, pelas fotos, que as pessoas passavam, 'olhavam' o cão e só.
vc disse tudo, ao dizer que o pobre morreu em vão. triste!
e longe de ser radical e porta-bandeira da causa ambiental etc.

Neto.
www.chagelado.zip.net

Rubs disse...

é aninha... vc falou bem... o coitado morreu em vão. O "artista" por sua vez ultrapassou os 15 minutos da fama. Ainda hj há quem reflita sobre a morte por causa de um cão ( cuja a morte foi totalmente desnecessária)
Como vc disse... milhões de pessoas e animais morrem por dia.

Mas não identifique o modernismo usando como referencia Natividad... há muito mais. E vc de forma alguma é burra por não conhecer tão bem qnto o barroco, as obras do modernismo.

Parabéns pelo POST.

É sempre ótimo lê-los.

BJK

MaxReinert disse...

Até que enfim um texto sobre essa "passagem" que consegue sair do óbvio e realmente pensar sobre a obra do camarada!

Não sei seo o artista é tão mal intencionado como todos falam....mas, o que realmente me chocou no seu texto foi essa consciência de que o animal morreu em vão!

A arte contemporânea é isto! Deve levantar discussões que tenham a ver com a nossa situação hoje, muito além de perseguir o "ideal" do belo.... mas, infelizmente ainda tem gente que só diz "não gosto de arte".. não entender é muito diferente do que não gostar!

E, nem estou me referindo á "entender" como "concordar"... vc, minha querida blogueira "entendeu" o artista, mesmo discordando dele.... e, se metade da população tivesse o seu sendo crítico (além do simples "esse cara é um idiota e deveria estar preso") com certeza esse cachorro não precisaria ter morrido!!!

Mas.... esse é o mundo emque vivemos!!!!!

Vinícius Rodovalho disse...

Nosso senso, aonde foi parar? Em lugar nenhum, se extinguiu!

Concordo com todas as suas palavras sobre a atitude de tal "artista". Foi cruel. E em vão.

Muito bom texto.

Anónimo disse...

Parabéns pela postagem, muito interessante. Quem sabe um dia as coisas mudem?