quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Quando o meu mundo duplicou

No outro dia lembrei da minha infância. E lembrei daquele dia. Não sei precisar a data. Mas era fim de semana porque os meus pais estavam em casa. E acho que estava sol. Pelo menos na minha lembrança estava sol.

Lamento mas não lembro dos detalhes. A pintura está meio esbatida, vejo só o contorno. E mesmo assim tenho dúvidas se o que vejo foi o que aconteceu ou o que hoje imagino que tenha acontecido. Minha mente se encarregou de preencher os espaços em branco como achou mais conveniente.

Eu tinha um pouco mais de sete anos. Ou pelo menos é o que eu acho que eu tinha. Meu irmão tinha mais ou menos um ano. Só sei disso pela nossa diferença de idade. Tenho pena dessa memória fraca que eu envergo ao fim de (só) 23 anos. Bem que minha avó diz que quando eu chegar à idade dela (se eu chegar) estarei muito pior que ela.

Meu pai me chamou para ir ao play do nosso prédio. Como toda criança, fiquei muito feliz. Afinal, sempre adorei brincar com meu paizão. Ele insistiu em levar o chato do meu irmão mais novo. Eu reclamei, afinal ele sempre estragava as brincadeiras todas. Peguei na bola grande e ouvi:
- Hoje não é para levar a bola. Nem a bicicleta.
- Ah pai... Mas a gente vai brincar de quê então?
- Hoje a gente vai conversar.
- Que chato...

Eu não lembro como a conversa começou, mas lembro perfeitamente desse momento:
- Sabe aqueles dias em que o papai sai cedo para o trabalho e chega tarde e a gente nem se vê? Vai ser a mesma coisa, só que todos os dias.
- Tá bem.

Eu nem chorei. Sinceramente acho que nem entendi bem o que estava acontecendo. Nem lembro de ver meu pai fazer as malas. Nem sei se houve um beijo de despedida. Só sei que um dia meu pai estava lá e a partir de certa altura deixou de estar. E a partir de certo momento meu pai passou a ser visita em casa. Passou a tocar na campainha para entrar e a pedir licença à minha avó. E de repente vi meu mundo duplicar. Duas casas, duas festas de aniversário, dois natais, dois ovos de páscoa, duas famílias.

Criança é bicho engraçado... Eu queria com toda a força que meus pais estivessem juntos. E lembro de trancar o porta de casa e esconder a chave para meu pai não sair mais. E lembro de achar que se meus pais se beijassem estaria tudo resolvido. Então eu nunca deixava meu pai sair da minha casa sem dar um beijo na boca da minha mãe.

Esses esquemas nunca deram resultado cada um seguiu o seu caminho. Mas mesmo assim acho que todos foram felizes para sempre.

1 comentário:

Anónimo disse...

OI Aninha!!!
Td bom com vc?!!! Espero que sim!
Hoje quase morri de calor...vc não tem noção!
Ah, preciso te dizer que minha namorada também adora seus textos, seus pensamentos, seu modo de escrever! Ela vive comentando comigo!!! Te juro!!
Não sei se ela já postou comentario aqui, mas se ainda não, eu vou avisá-la pra fazer, tá?! Ela é a Lu que comenta no meu blog!!!rrsrsrsssrssrs...

Bom, to numa correria aqui pra escrever critica de filme pro jornal onde trabalho (de graça, claro!!rsrsrsr), mas depois eu post um comentário sobre seu novo post em si, tá?!

Beijosssssss!!!!!!!