sábado, 29 de setembro de 2007

Adelaide

Era uma terça feira. Seis e quarenta da manhã. O despertador já tocara há dez minutos. Levantou-se, tomou banho, escovou os dentes, vestiu-se. Tinha sonhado com um gato que tivera na infância. No sonho seguia o gato até uma floresta. Não se lembrava do que acontecera depois. Sempre tivera dificuldade em lembrar dos sonhos. E eles voltavam a meio do dia, sem qualquer razão especial.

“Mais um dia”, pensou antes de sair de casa. E esse pensamento ecoou dentro dela. “Mais um dia igual aos outros”. Já há muito tempo que os dias eram todos iguais. Entristeceu. Pensou no quanto era normal, igual, banal.

Estava mais ou menos bem de saúde. Ganhava razoavelmente. A sua casa era média. Nunca se destacara por ser boa demais em alguma coisa ou por ser extremamente bonita. Nem por ser má demais. Não tinha nehuma característica especial, nenhum dom. Era morena dos olhos castanhos. Existe coisa mais banal que isso? Tinha estatura mediana e não era gorda nem magra. O tipo de pessoa que nunca se destacaria numa multidão. Nunca fora uma pessoa de extremos, de grandes romances ou aventuras. Nunca tivera paixões avassaladoras. Daquelas de perder a fome, o sono e o sossego. Não era fã de ninguém.

Largou a chave, deciciu não ir trabalhar. Estava cansada. Cansada de existir “mais ou menos”. Queria ser feliz para sempre. “Numa próxima vida talvez”, pensou com olhos de desistente. Nem chorou a pensar nisso. Nunca foi pessoa de fazer dramas. Decidiu fechar os olhos para a eternidade.

Mas, antes, tinha uma última coisa a fazer. Uma espécie de último desejo.

Tirou a roupa e tomou banho novamente. Um banho demorado, sentindo a ternura da água quente na sua pele. Colocou o vestido vermelho que adorava, mas que estivera sempre guardado para as ocasiões especiais que nunca chegariam. Calçou os saltos altos, perfumou-se com o perfume mais caro. Preparou um café majestoso. Saboreou cada compota, cada queijo e sentiu o aroma do café antes de o beber.

Nesse dia resolveu sair a pé. Acenou para o jornaleiro que lhe retribuiu o cumprimento dizendo: “Bom dia Dona Adelaide”. Espantou-se por ele saber o seu nome. Continuou a caminhar.
Passou por ruas, avenidas e estradas. Parava em frente de cada coisa que lhe despertava a atenção. Almoçou sozinha no restaurante mais caro da cidade. Aquele que ela nunca frequentara por estar sempre a espera do momento certo. E tomou sorvete, foi ao cinema ver aquele filme que sempre quisera mas para o qual não tinha companhia, comprou pipocas e gargalhou sozinha no cinema.

Já era de noite quando chegou em casa. Vinha com um sorriso nos lábios, pois tinha lembrado da infância e do gato que teimava sempre em fugir para o quintal da vizinha. Não entendia como o mundo se tornara num lugar tão estranho.

Preparou os remédios e o copo d’água para dormir para sempre.E bebeu toda a água. De uma só vez, sem vacilar. Cada gole era uma recordação de uma vida que ficaria para trás.

No dia seguinte o despertador tocou pela manhã. Ela abriu os olhos. Ainda estava com o vestido vermelho e os remédios permaneciam intactos na mesa de cabeceira. Tinha decidido viver. Em todos os sentidos.

12 comentários:

Bernardo Lima disse...

olá ana...
apesar de não vir aqui a um tempinho, pois estou meio sem tempo, vejo q vc continua escrevendo bons textos...
mt bom esse da delaide...
um bj!

Lucas Conrado disse...

poxa, gostei mesmo desse texto... Acho que estou precisando viver mais também...
Parabéns!

Anónimo disse...

adorei...seu blog é muito massa!!!

venhu aki sempre que puder....

bjinhus te mais

Jonathan disse...

Gostei muito da história da Adelaide!
Que bom que ela decidiu viver. Eu estou em vias de decisão.

Jana Cambuí disse...

Que ótimo viver, e não desistir disso. Adorei o texto, chama uma esperança.

A. D. I. disse...

que interessante...

Parabéns

m�fia verde disse...

analu... amanha os videos da marisa monte estarão no ar ok??

obrigado pela visita, e continue visitando. adoei seu blog.. bem inteligente.

bjos

Arne Balbinotti disse...

Muito bom o texto menina, realmente escrito de uma maneira sutil, mas incrivelmente parecida com a nossa realidade... mesmo por que, quem ja nao se entediou com a propria vida?
Abraços e obrigado pela visita na Butique.
PS.: Não sou médico, sou téc. em enfermagem... hehehe.

NaturePlanet disse...

Mocinha, show de bola esse texto..bela criação, estas de parabéns!
Bjus

Anónimo disse...

Texto muito bom!!!

Vale muito a pena viver!!!

bjs!!

Tenha uma ótima semana moça!!

www.karynemlira.com

Anónimo disse...

Menina !

é você mesmo
que escreve
esses textos?

tem hora que eu
nem acredito =O

mtuuuuuuuuuuuuuuuuuu
bommmmmm

;**

Anónimo disse...

ei moça!!

to passando para te convidar a comentar na discursão dessa semana no meu blog, que é sobre gravidez na adolescência!!! Gostei mt de vc ter comentado na da semana passada!!

http://karynemlira.com/category/debate-da-semana/

Te favoritei no meu blog, viu!?!?!

bjs